Qualquer que seja o motivo – a pandemia, uma inspiração do Instagram, o YouTube, o TikTok, o Facebook, uma/um colega ou amiga/o que faz marcenaria, ou as luas de Saturno – mais e mais pessoas têm se interessado por marcenaria no Brasil.
Se você é uma destas pessoas, se já começou a marceneirar, ou se está pensando em marceneirar, este texto é para você.
Ele foi construído em cima de uma crença – a de que, se a gente vai gastar um tempo da vida da gente, que valha a pena gastar este recurso precioso e finito. Ou seja : se é para fazer, que seja bem feito.
Todas as vezes em que vamos fazer alguma coisa, temos que pensar nesta coisa atendendo quatro requisitos: função (mesa é para apoiar, cadeira é para sentar, etc.), forma (a beleza, o design), conforto (no uso), e durabilidade.
Para que uma peça feita em madeira dure, é necessário escolher os materiais apropriados às condições de uso, determinar as dimensões apropriadas para cada componente, e garantir que as peças que compõem o produto ficarão juntas pelo tempo desejado de vida do produto.
No caso de itens feitos de madeira, as peças permanecem juntas através dos encaixes. Para que isso aconteça, é necessário, além de um processo de colagem adequado, precisão na usinagem das peças.
Essa precisão só pode ser alcançada com a geração de peças esquadrejadas, iniciais, das quais serão geradas as peças nos tamanhos e formatos finais – desejavelmente, os projetados.
Em marcenaria, há dois caminhos para se atingir estes objetivos : o caminho do feijão (fazer no braço, com ferramentas manuais, não elétricas), ou usar máquinas e ferramentas elétricas (escolha que não desobriga o marceneiro a conhecer e usar as ferramentas manuais).
Se você escolher as ferramentas manuais, você vai precisar minimamente de uma bancada (R$1.100) ou algo similar, um serrote ocidental convencional com comprimento em torno de 500 mm (R$70), uma plaina manual (Stanley Bailey ou Master, usada, R$400 se você tiver sorte), uma raspilha (R$60), um metro decente (R$ 80), um graminho (R$200), um esquadro que esteja no esquadro (R$120 – combinado), um serrote de costas (R$100), jogo de formões 6 / 12 / 20 / 25 mm (R$200), um malho de madeira (R$70), uma maquineta (R$80), um arco de pua (R$180), jogo de brocas (R$200), um “par” de vários grampos (10 - R$ 300), e uns sargentos (3 - R$ 780). Se fiz ascontas direitinho, são R$ 3.940 – minimamente.
Se você escolheu o caminho das tomadas e baterias, você vai precisar, nesta ordem (há controvérsias), de uma serra de bancada (R$3.200), um desengrosso de bancada (R$3.800), uma furadeira de bancada (R$1.250), uma tupia elétrica portátil que dê para inverter (R$2.800), uma serra de fita (R$3.900), e uma desempenadeira de bancada (R$4.000). À exceção desta última máquina, as demais são máquinas novas. Os preços referem-se a máquinas de boa qualidade. RR$ 18.950 – de novo, se fiz as contas de forma correta. E você precisará também de todas as ferramentas do caminho do feijão.
Estes valores podem afastar boa parte das pessoas que têm interesse em marcenaria. Pode ser que eles a/o incomodem.
Mas vamos às boas notícias, e às sugestões :
1 - pode ser que, em sua cidade, haja uma marcenaria que alugue a infraestrutura por tempo Mesmo que você não encontre uma que faça isso de maneira explícita, procure marcenarias e proponha um arranjo de aluguel por tempo de uso. Essa é uma forma de você ir aprendendo e, ao mesmo tempo, ir descobrindo se você realmente gosta de
marcenaria, antes de você fazer estes investimentos;
2 – os preços listados são, na imensa maioria dos casos, de equipamentos novos. Através da Internet, em “feiras do rolo”, ou procurando marcenarias que estão sendo desativadas, você pode encontrar equipamentos com preços muito bons. Caso você não tenha conhecimento sobre qualidade de equipamentos, descubra alguém que tenha para auxiliá-lo em suas compras;
3 – há ainda um terceiro caminho. Ele é mais longo, demanda mais trabalho, mas produz resultados muito maiores. Você pode aprender como uma plaina deve funcionar. Você pode aprender como fabricá-la. Você pode aprender como produzir um ferro de plaina, e como afiá-lo; como produzir um formão, como produzir uma raspilha. Você pode aprender a produzir as suas próprias ferramentas, e a usá-las. Isso lhe dará um domínio sobre ferramentas e processos de usinagem que serão valiosíssimos na sua prática de marcenaria.
Qualquer que seja o caminho escolhido por você, lembre-se de que :
1 – fazer marcenaria exige a obediência aos protocolos de uso seguro de máquinas e ferramentas. Nunca os desobedeça. Se você não os conhece, descubra-os, e siga-os sempre;
2 – estude, estude muito para conhecer todas as disciplinas envolvidas no ofício. Os livros, a Internet e os diversos cursos disponíveis no mercado estão aí para facilitar a sua jornada;
3 – como quase tudo na vida, fazer marcenaria de alta qualidade depende muito mais de sua persistência do que de seu talento. A persistência vence a eventual falta de talento, e a falta de persistência não deixa o talento se manifestar. Estude, pratique e persevere e você atingirá resultados incríveis.
Pode ter certeza : vale muito a pena.
E então ... vamos juntos ?
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